Por algum tempo, fui colunista da revista de vôo livre Air. A Revista Air, editada pelo meu grande amigo, ex-sócio no vôo duplo do Rio e quem admiro muito, Paulão (Big Paul). A Air sempre foi uma publicação de alto nível, leitura indispensável para que é praticante do vôo de asa delta, o que muito me orgulhou de poder fazer parte deste time. A última matéria que publiquei nesta maravilhosa revista, parece que já era um aviso para mim mesmo, de que eu estaria me direcionando para outros esportes. No texto a seguir, comento sobre o que outros esportes podem auxiliar no vôo livre de asa delta. E agora, depois de ter parado de voar de asa delta, retomando o windsurf depois de 10 anos parado, percebi que olho para a vela de windsurf como se fosse uma asa. Estes 10 anos de asa delta, com o windsurf parado, aumentaram a minha sensibilidade na colocação da vela do windsurf no vento. Me pareceu que aumentei a minha sensibilidade ao manipular a vela no vento. As correções em rajadas entraram num ajuste mais fino. Ou seja, meu windsurf melhorou, mesmo eu estando parado na prática deste esporte. Algumas velejadas foram suficientes para eu recuperar o ponto de parada e iniciar uma nova fase num windsurf mais técnico. Graças ao vôo livre. Já o surf, esporte que pratico desde os 14 anos de idade, está sendo muito auxiliado pelo windsurf. Estou recuperando preparo físico e ensaiando umas cavadas encima de uma prancha. Nos dias que caí na água com minha pranchinha de surf, pude sentir uma recuperação de antigas manobras, do meu tempo de moleque, que haviam anos que eu não completava. Resumindo, acredito que o que escrevi nesta matéria da Air, tem tudo a ver mesmo. Estou praticando o que eu, na teoria, afirmei. Se você é simpatizante do vôo livre de asa delta, assine a Air. Uma revista muito interessante e com uma edição moderna, de alto nível, feita por um cara apaixonado pelo que faz. Meu grande brou Paulão!
O vôo livre e outros esportes
O vôo livre de asa-delta é um esporte único. Tem suas particularidades. Existem coisas que só acontecem com o vôo e com quem voa de asa-delta. Situações impensáveis para a maioria dos praticantes de outros esportes. Ralação no curso, subir e descer um morrinho de 30 metros de altura, 10 vezes num dia... Alto custo do equipamento, instrumentos de vôo... Poucos praticantes... Riscos... A família normalmente sem dar aquele incentivo para os iniciantes (poucos pais querem ver seus filhos voando de asa delta)... Contemplação... Altura. Vemos o mundo de uma forma bem diferente dos que praticam a maioria de outros esportes. Lá de cima, longe do chão, perto das nuvens, as coisas são muito mais legais. Silêncio. Autoconfiança. Concentração. Preparo físico. Estratégia. Coragem. Mas repare que, no nosso esporte, muitos praticantes vêm de outros esportes. Como somos pessoas na maioria com mais de 20 anos de idade, alguma estrada esportiva já foi percorrida na nossa vida antes de decidirmos nos jogar da montanha. Skate, futebol, surf, windsurf, vela, mountain bike, motociclismo, atletismo, kart, xadrez, natação, musculação, vôlei, jiu jitsu, etc. Alguns dos que se iniciam no vôo livre de asa delta são, ou foram, esportistas ou campeões de outras modalidades. Vejam o exemplo do nosso saudoso Pepê Lopes, campeão mundial de asa delta em 1981. Pepê foi campeão no hipismo quando criança, por volta dos 12 anos de idade e também campeão no surf, primeiro brasileiro bem colocado no surf mundial. Já com um pouco mais de idade, foi sexto colocado no campeonato Pipe Master na praia de Pipeline, no Hawaii. Mas será que podemos aproveitar os conhecimentos que adquirimos em outros esportes para uso no vôo livre de asa-delta? Claro! Muitos dos fundamentos importantes para um vôo seguro e eficiente existem em outros esportes que nada tem a ver com o ar. Veja por exemplo que a maioria dos praticantes do vôo livre, quando nosso esporte nasceu, veio do surf. A galera que estava acostumada ao contato íntimo com a natureza, lá pelos anos 70, quando viram um cara se jogando da montanha do Corcovado, ao lado do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, fazendo aquele passeio dentro da atmosfera, com uma integração total com o vento, com a brisa, se identificou na hora com o vôo. O bom surfista tem que ter uma certa dose de coragem para entra num mar de ressaca, tomar umas ondas maiores na cabeça e "dropar" em paredes cavernosas de muita água, encarar o perigo e ir contra ele, na hora certa. Domínio de importantes forças da natureza. A aventura de voar de asa delta combina com estes sentimentos. O equilíbrio na prancha, a sensibilidade nos movimentos, a decisão em segundos do melhor posicionamento, momentos críticos. Mas separemos as coisas. Tentar uma manobra semi-impossível numa onda "caroço" fechando inteira, não combina com a segurança necessária ao vôo livre. Como no skate, uma nova manobra incompleta, acaba num tombo de uns 2 metros de altura. Queda na água ou numa parede de concreto com joelheiras, cotoveleiras, ou mesmo a água protegendo o corpo. Arranhões ou um caldo mais sério. Num pouso com uma asa delta, estamos voando perto do chão geralmente com uma velocidade de uns 50 km/h. Isso se não houver nenhum movimento radical incluído. Coloca agora um skatista nesta asa e fala para ele tentar um "1080 flip back aerial invert rock and roll" que ele nunca fez... Errou, explode no chão. Simples assim. E esta explosão pode ser muito séria com uma asa delta. Acidente aéreo. Por isto que no vôo livre, o piloto deve ter maturidade. Não é esporte para crianças (apesar de algumas crianças serem mais maduras que alguns adultos). Não existe margem para "porralouquice". Além do risco de um acidente sério, os danos aos equipamentos de vôo geralmente levam o piloto a ter que desembolsar um bom valor em dinheiro para remontar sua aeronave. Alto prejuízo. Temos que fazer dos nossos movimentos o mais "padrão" possível, principalmente quando estamos perto do chão. Portanto, tiramos várias coisas úteis de outros esportes, mas não tudo. Olhemos para um outro lado agora. O que tem a ver o vôo livre com um jogo de xadrez? Não voamos olhando para peças sobre uma mesa (apesar do céu bom para o vôo ser comparado a um tabuleiro de xadrez - nuvens = casa branca, céu azul = casas pretas). A estratégia num campeonato de vôo livre de asa-delta se assemelha à necessária para ganhar um jogo de xadrez. Não deixe seu adversário num campeonato saber sua intenção no "jogo". Imagine qual a intenção de seu competidor que causou o seu último movimento. Pense na seqüência de movimentos que você precisa fazer para chegar à vitória. Imagine a reação do adversário à sua ação. "Se ele fizer isto, farei aquilo para vencê-lo". Concentração. Disputa. Raciocínio. Inteligência. Equilíbrio mental. Tudo isto é muito útil para o vôo livre numa competição. Jiu Jitsu? Desafio. Enfrentamento. Use a força dos outros (natureza) a seu favor. Mais uma vez a coragem e a busca da definição de uma situação. Musculação? Ginástica? Força nos braços, ombros. Resistência física. Muito útil para a preparação física dos pilotos de competição e mesmo dos pilotos de fim de semana. Corpo sarado e com disposição significa comandos precisos e vigorosos quando necessários. Corpo em forma para comandar a aeronave "no braço". E o bicicross? Mountain bike? Moto cross? Kart? Automobilismo? Velocidade! Mais uma vez, coragem. Jogar o brinquedo com a "mão embaixo" na confiança. Adrenalina a mil. Competitividade, vento na cara... Corrida. Windsurf? Kite surf? Barco a vela? Percorrendo distâncias, com velocidade, utilizando apenas a força do vento. Um aerofólio bem posicionado obtendo o melhor rendimento. Pouco arrasto. Vela esticada. Corpo para um lado, vento para o outro. Aerodinâmica. Portanto, quando voamos de asa-delta, podemos estar aproveitando uma série de conhecimentos, fundamentos, estratégias, movimentos que outros esportes têm e que o vôo livre também usa. Um esporte ajudando ao outro. Todos ajudando o vôo livre. Repare na roupa de um piloto de asa-delta quando vai voar. Não poderia ser: capacete de skate, camisa de lycra de surfista, óculos de motociclista, luva e calça de ciclista, bota de alpinista? E os acessórios? Bússola de iatismo, altímetro de pára-quedistas (antigamente), grip de raquete de tênis no speed bar... Aos poucos os nossos acessórios do vôo livre de asa delta vão se aperfeiçoando, se especializando. Já temos instrumentos de vôo, capacetes, luvas, óculos, roupas quase completas, específicas para voar. Mas passamos alguns anos na história do vôo livre utilizando equipamentos desenvolvidos para outros esportes e adaptados para as nossas necessidades. Por outro lado, da mesma forma como adaptamos as características dos outros esportes ao vôo livre, um piloto de asa-delta tem grandes chances de utilizar o que o vôo livre lhe exige para benefício na prática de outros esportes. É um raciocínio inverso ao desenvolvido até aqui. Finalizando, quando estiveres praticando algum outro esporte, fazendo qualquer atividade, visualize como os movimentos, esforços, raciocínios podem te ajudar no vôo livre. Certamente você estará fazendo isto inconscientemente. Esta comparação não vai te ensinar a voar, mas com certeza pode estar temperando seu estilo de vôo, enriquecendo seu raciocínio e sua atitude e te tornando um piloto de asa-delta mais completo. Neko.
O vôo livre de asa-delta é um esporte único. Tem suas particularidades. Existem coisas que só acontecem com o vôo e com quem voa de asa-delta. Situações impensáveis para a maioria dos praticantes de outros esportes. Ralação no curso, subir e descer um morrinho de 30 metros de altura, 10 vezes num dia... Alto custo do equipamento, instrumentos de vôo... Poucos praticantes... Riscos... A família normalmente sem dar aquele incentivo para os iniciantes (poucos pais querem ver seus filhos voando de asa delta)... Contemplação... Altura. Vemos o mundo de uma forma bem diferente dos que praticam a maioria de outros esportes. Lá de cima, longe do chão, perto das nuvens, as coisas são muito mais legais. Silêncio. Autoconfiança. Concentração. Preparo físico. Estratégia. Coragem. Mas repare que, no nosso esporte, muitos praticantes vêm de outros esportes. Como somos pessoas na maioria com mais de 20 anos de idade, alguma estrada esportiva já foi percorrida na nossa vida antes de decidirmos nos jogar da montanha. Skate, futebol, surf, windsurf, vela, mountain bike, motociclismo, atletismo, kart, xadrez, natação, musculação, vôlei, jiu jitsu, etc. Alguns dos que se iniciam no vôo livre de asa delta são, ou foram, esportistas ou campeões de outras modalidades. Vejam o exemplo do nosso saudoso Pepê Lopes, campeão mundial de asa delta em 1981. Pepê foi campeão no hipismo quando criança, por volta dos 12 anos de idade e também campeão no surf, primeiro brasileiro bem colocado no surf mundial. Já com um pouco mais de idade, foi sexto colocado no campeonato Pipe Master na praia de Pipeline, no Hawaii. Mas será que podemos aproveitar os conhecimentos que adquirimos em outros esportes para uso no vôo livre de asa-delta? Claro! Muitos dos fundamentos importantes para um vôo seguro e eficiente existem em outros esportes que nada tem a ver com o ar. Veja por exemplo que a maioria dos praticantes do vôo livre, quando nosso esporte nasceu, veio do surf. A galera que estava acostumada ao contato íntimo com a natureza, lá pelos anos 70, quando viram um cara se jogando da montanha do Corcovado, ao lado do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, fazendo aquele passeio dentro da atmosfera, com uma integração total com o vento, com a brisa, se identificou na hora com o vôo. O bom surfista tem que ter uma certa dose de coragem para entra num mar de ressaca, tomar umas ondas maiores na cabeça e "dropar" em paredes cavernosas de muita água, encarar o perigo e ir contra ele, na hora certa. Domínio de importantes forças da natureza. A aventura de voar de asa delta combina com estes sentimentos. O equilíbrio na prancha, a sensibilidade nos movimentos, a decisão em segundos do melhor posicionamento, momentos críticos. Mas separemos as coisas. Tentar uma manobra semi-impossível numa onda "caroço" fechando inteira, não combina com a segurança necessária ao vôo livre. Como no skate, uma nova manobra incompleta, acaba num tombo de uns 2 metros de altura. Queda na água ou numa parede de concreto com joelheiras, cotoveleiras, ou mesmo a água protegendo o corpo. Arranhões ou um caldo mais sério. Num pouso com uma asa delta, estamos voando perto do chão geralmente com uma velocidade de uns 50 km/h. Isso se não houver nenhum movimento radical incluído. Coloca agora um skatista nesta asa e fala para ele tentar um "1080 flip back aerial invert rock and roll" que ele nunca fez... Errou, explode no chão. Simples assim. E esta explosão pode ser muito séria com uma asa delta. Acidente aéreo. Por isto que no vôo livre, o piloto deve ter maturidade. Não é esporte para crianças (apesar de algumas crianças serem mais maduras que alguns adultos). Não existe margem para "porralouquice". Além do risco de um acidente sério, os danos aos equipamentos de vôo geralmente levam o piloto a ter que desembolsar um bom valor em dinheiro para remontar sua aeronave. Alto prejuízo. Temos que fazer dos nossos movimentos o mais "padrão" possível, principalmente quando estamos perto do chão. Portanto, tiramos várias coisas úteis de outros esportes, mas não tudo. Olhemos para um outro lado agora. O que tem a ver o vôo livre com um jogo de xadrez? Não voamos olhando para peças sobre uma mesa (apesar do céu bom para o vôo ser comparado a um tabuleiro de xadrez - nuvens = casa branca, céu azul = casas pretas). A estratégia num campeonato de vôo livre de asa-delta se assemelha à necessária para ganhar um jogo de xadrez. Não deixe seu adversário num campeonato saber sua intenção no "jogo". Imagine qual a intenção de seu competidor que causou o seu último movimento. Pense na seqüência de movimentos que você precisa fazer para chegar à vitória. Imagine a reação do adversário à sua ação. "Se ele fizer isto, farei aquilo para vencê-lo". Concentração. Disputa. Raciocínio. Inteligência. Equilíbrio mental. Tudo isto é muito útil para o vôo livre numa competição. Jiu Jitsu? Desafio. Enfrentamento. Use a força dos outros (natureza) a seu favor. Mais uma vez a coragem e a busca da definição de uma situação. Musculação? Ginástica? Força nos braços, ombros. Resistência física. Muito útil para a preparação física dos pilotos de competição e mesmo dos pilotos de fim de semana. Corpo sarado e com disposição significa comandos precisos e vigorosos quando necessários. Corpo em forma para comandar a aeronave "no braço". E o bicicross? Mountain bike? Moto cross? Kart? Automobilismo? Velocidade! Mais uma vez, coragem. Jogar o brinquedo com a "mão embaixo" na confiança. Adrenalina a mil. Competitividade, vento na cara... Corrida. Windsurf? Kite surf? Barco a vela? Percorrendo distâncias, com velocidade, utilizando apenas a força do vento. Um aerofólio bem posicionado obtendo o melhor rendimento. Pouco arrasto. Vela esticada. Corpo para um lado, vento para o outro. Aerodinâmica. Portanto, quando voamos de asa-delta, podemos estar aproveitando uma série de conhecimentos, fundamentos, estratégias, movimentos que outros esportes têm e que o vôo livre também usa. Um esporte ajudando ao outro. Todos ajudando o vôo livre. Repare na roupa de um piloto de asa-delta quando vai voar. Não poderia ser: capacete de skate, camisa de lycra de surfista, óculos de motociclista, luva e calça de ciclista, bota de alpinista? E os acessórios? Bússola de iatismo, altímetro de pára-quedistas (antigamente), grip de raquete de tênis no speed bar... Aos poucos os nossos acessórios do vôo livre de asa delta vão se aperfeiçoando, se especializando. Já temos instrumentos de vôo, capacetes, luvas, óculos, roupas quase completas, específicas para voar. Mas passamos alguns anos na história do vôo livre utilizando equipamentos desenvolvidos para outros esportes e adaptados para as nossas necessidades. Por outro lado, da mesma forma como adaptamos as características dos outros esportes ao vôo livre, um piloto de asa-delta tem grandes chances de utilizar o que o vôo livre lhe exige para benefício na prática de outros esportes. É um raciocínio inverso ao desenvolvido até aqui. Finalizando, quando estiveres praticando algum outro esporte, fazendo qualquer atividade, visualize como os movimentos, esforços, raciocínios podem te ajudar no vôo livre. Certamente você estará fazendo isto inconscientemente. Esta comparação não vai te ensinar a voar, mas com certeza pode estar temperando seu estilo de vôo, enriquecendo seu raciocínio e sua atitude e te tornando um piloto de asa-delta mais completo. Neko.
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