29 de jan. de 2009

O CASO PESCA E SURF (8)

Dando continuidade no trabalho do Ingo Kuerten sobre O CASO PESCA E SURF, entramos agora numa parte bastante interessante para a galera do surf. São as características físicas da área de estudo deste trabalho. Alguma teoria sobre ondas, ventos e tudo o que envolve a natureza do surf. O Capitulo 7 do trabalho do Ingo será fragmentado em diversas postagens aqui no Top Wings pois o assunto é bastante extenso.

7 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁREA DE ESTUDO
Conhecer as características físicas e geomorfológicas, bem como a dinâmica do ambiente costeiro é fundamental quando se objetiva o gerenciamento desta região. O município de Cidreira, emancipado de Tramandaí em 1988, está localizado próximo ao meridiano de 50° W e ao paralelo de 30° S em relação à Linha do Equador e ao meridiano de Greenwich, distante aproximadamente 120km da capital do estado do Rio Grande do Sul. Tem como limites ao norte o município de Tramandaí, a leste o Oceano Atlântico, ao sul o município de Balneário Pinhal e a oeste os municípios de Osório e Capivari do Sul. A figura cinco mostra os limites do município (em vermelho), e pontos captados em campo e descarregados no Google Earth.
Figura 5: Localização do município de Cidreira, com coordenadas dos limites norte e sul e de pontos conhecidos junto à orla marítima através de imagem de satélite da ferramenta Google Earth captada e editada pelo autor, com sobreposição e ajuste espacial do layer de limite municipal IBGE 2000.
7.1 Parâmetros Geomorfológicos
Segundo Villwock (1984), as províncias geológicas formadas ao longo das margens continentais do tipo Atlântico consistem basicamente de uma planície costeira e de uma plataforma continental, limitadas por uma linha de costa efêmera e dominadas por ambientes continentais transicionais e marinhos. Ainda segundo aquele autor, suas características essenciais dependem da interação de três fatores: taxa de suprimento sedimentar, taxa de subsidência e variações do nível do mar. A Província Costeira do Rio Grande do Sul é composta por duas unidades geológicas principais, o Embasamento (fonte de sedimentos) e a Bacia de Pelotas. Conforme Villwock e Tomazelli (1995), a Bacia de Pelotas é uma bacia marginal aberta do tipo costeira estável, segmento meridional da margem continental sul brasileira. Sua origem está relacionada aos acontecimentos geotectônicos que culminaram com a abertura do Oceano Atlântico Sul (no período Jurássico) e que resultaram na ruptura do grande continente Gondwana e na separação dos continentes africano e americano. As feições geológico-geomorfológicas da seção superior da Bacia de Pelotas são a Planície Costeira e a Plataforma Continental. Para este estudo consideramos apenas a Planície Costeira, pois é neste ambiente que de fato encontramos os conflitos analisados nesta pesquisa.
7.1.1 A Planície Costeira
Segundo definição de GRUBER (2002), a Planície Costeira do Rio Grande do Sul corresponde a uma feição fisiográfica onde estão expostos os sedimentos da porção superficial da Bacia de Pelotas. Estes sedimentos foram depositados desde o terciário sob influência de oscilações glácio eustáticas do nível do mar e de acentuadas variações climáticas. Estas oscilações do nível do mar estão intimamente ligadas às alternâncias cíclicas de períodos frios e quentes que vêm ocorrendo sistematicamente desde os últimos 750.000 anos. Relacionam-se com mudanças axiais e orbitais do planeta: excentricidade da órbita (periodicidade de 96.000 anos), inclinação axial (periodicidade de 42.000 anos) e precessão dos equinócios (periodicidade de 21.000 anos), conhecidas como Ciclos de Milankovitch. Resultam em uma variação regular de aproximadamente 100.000 anos, quando as temperaturas caem gradativa e lentamente em direção ao período glacial, para depois subir rapidamente (aproximadamente 10.000 anos) até o máximo interglacial. O resultado dessas variações gerou uma planície constituída por um sistema de leques aluviais e lagunas barreira. Os Sistemas de Leques Aluviais estão correlacionados com a Planície Aluvial Interna e com os maciços cristalinos circunjacentes das terras altas. Iniciaram se a partir do Terciário e estão relacionados a um clima mais seco e frio em período de mar rebaixado (VILLWOCK et al, 1984). Durante o Pleistoceno houve o desenvolvimento de sistemas deposicionais do tipo barreira-laguna na borda leste da planície costeira. Associados aos eventos transgressivos e regressivos, pleistocenicos e holocênicos, formaram os Sistemas Tipo Barreira- Laguna I, II, III e IV, identificados por Villwock et al (1984). As barreiras I, II e III são pleistocênicas e a IV, ainda ativa, iniciou seu desenvolvimento no holoceno tardio (Figura seis). 
Figura 6: Perfil esquemático transversal dos sistemas deposicionais da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, na latitude de Porto Alegre. As barreiras são correlacionadas aos últimos e maiores picos na curva isotópica de oxigênio por Tomazelli e Villwock (1999).
7.1.2 A Praia
HOEFFEL (1998) conceitua praia como uma acumulação de sedimentos inconsolidados os quais se estendem entre a zona mais próxima de quebra de ondas com o limite de lavagem de ação máxima de ondas de tempestade e de marés sobre o continente, esta última de importância secundária. As praias se estendem até uma forma que altera a fisiografia, tais como falésias e campos de dunas frontais. Segundo WRIGHT & SHORT (1984) existem modelos de variabilidade espacial de praias, que reconhecem seis estados morfológicos distintos, sendo dois extremos e quatro intermediários. Os extremos são:
1. Totalmente Dissipativo: caracterizado por uma declividade suave, uma granulometria fina, uma ampla zona de arrebentação, ocasionada pela presença de triplas barras onde as ondas dissipam a maior parte da energia antes de atingir o estirâncio e um grande estoque arenoso localizado na porção subaquosa.
2. Totalmente Reflectivos: caracterizado por uma declividade mais acentuada, uma granulometria mais grossa, uma zona de arrebentação mais estreita, onde grande parte da energia das ondas incidentes é refletida e o estoque arenoso se concentra na porção subaérea (TOLDO JR et al, 1993) & (SILVA, 1998). 
Figura 7: Característica dos perfis praiais dissipativos e reflectivos. Os eixos X correspondem às distancias e os eixos Y correspondem às profundidades (TOLDO JR, 1993). Tratando-se do Rio Grande do Sul, mais especificamente do Litoral Norte vários pesquisadores classificaram a faixa de praia como essencialmente no estado morfodinâmico dissipativo e intermediário e, eventualmente, reflectivo (WESCHENFELDER et al, 1997). 

Na próxima semana, conforme comentado no início desta postagem, seguimos acompanhando as características físicas da área de estudo, agora veremos as variáveis climáticas.

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